POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Como mudar culturalmente os hábitos da sociedade?
Segundo Jean Baudrillard, somos uma sociedade de consumo, conseqüência da automatização do sistema de produção que reduziu o indivíduo à condição de consumidor. A sociedade foi estimulada a consumir um produto com uma gama de associações simbólicas, consumimos um símbolo, uma “imagem mercadoria”, suplantando a substância pela aparência.
Essa idéia foi muito bem aplicada e explorada pela publicidade e pelo marketing, quando fixaram nos produtos imagens de beleza, sedução, auto-realização, romance e até mesmo de qualidade de vida, deixando de lado a noção original e tornando as mercadorias verdadeiras ilusões culturais, que fascinaram o consumidor pós-moderno pela sua estética, pelas associações mirabolantes e pelo significado do produto.
O consumo desenfreado por produtos e serviços que proporcionam conforto e comodidade levou o setor produtivo a se desenvolver num ritmo frenético. Esse ritmo não previu nenhuma preocupação com os recursos naturais e a capacidade de suporte dos ecossistemas, estabelecendo uma incompatibilidade entre consumo, produção e desenvolvimento. Hoje, não há espaço para o desenvolvimento a qualquer preço e as empresas têm que se preocupar com a sua sustentabilidade e com a sua própria existência daqui a alguns anos.
Segundo Gilles Lipovetsky, as preocupações do porvir planetário e os riscos ambientais assumiram posição primordial no debate coletivo. O termo responsabilidade social começou a ser substituído por desenvolvimento sustentável. No último ano, quando finalmente todos despertaram para as revelações alarmantes a respeito do aquecimento global, o assunto ganhou a importância merecida na mídia, nas empresas e fora delas. O aquecimento global virou uma febre, a sustentabilidade virou uma febre, as empresas são sustentáveis, o negócio é sustentável, tudo é sustentável. Mas qual seria o antídoto, ou a antítese sem cair no efêmero?
Segundo James Lovelock, o único jeito de melhorar a situação é diminuir drasticamente o consumo e o crescimento da população e encontrar formas de energia limpa. No Blog do jornalista Luis Nassif, o economista-ecologista chileno Manfred Max-Neef questiona o modelo econômico atual baseado na exacerbação do consumo, na explosão das cadeias produtivas, e no livre comércio. “É uma maravilha que o leite saia da Áustria e vá para a Itália onde será convertido em yogurte, com embalagem produzida na Alemanha e a fita em outro país. Mas quando se calcula o consumo de combustíveis e a geração de carbono, o modelo torna-se totalmente anacrônico e perdulário”, afirmou.
O antídoto para a sustentabilidade e para o consumo consciente deve passar necessariamente por uma mudança cultural nos hábitos de cada sociedade e do interesse dos empresários, até porque a perpetuação das organizações depende da preservação do meio ambiente e da valorização social. O consumo consciente deve ganhar atributos simbólicos, deve se tornar uma atitude “hipermoderna”, de pais que pensam nos filhos, no bem comum e no crescimento espiritual, em detrimento do egoísmo e do “status” material.
*Currículo:
Mestre em comunicação pela UMESP,
professor em Gestão Ambiental do IPT/
USP, do Instituto Mauá de Engenharia e
da FMU. Membro do GT de comunicação
da Mesa Redonda Paulista de Produção
Mais Limpa (P+L) e membro do COMUNI
– Grupo de estudos em Comunicação
Comunitária. Diretor da Communità.