POR – MÁRCIO THAMOS ESPECIAL PARA NEO MONDO
A Fon-Fon, considerada uma das melhores e mais influentes publicações ilustradas do país, circulou, em edições semanais, de 1907 a 1945. Esse período recobre justamente as marcantes décadas do início do século vinte em que se processava uma grande mudança na mentalidade nacional, através de uma intensa agitação de idéias que as artes em geral, e especialmente a literatura, ajudaram a fomentar.
ofereceu, logo em 1946, a coletânea de contos Sagarana e, dez anos depois, em 1956, o romance Grande sertão: veredas, obras insuperáveis, que permanecem exalando um denso frescor de brasilidade.
Desde então, variadas e ricas experiências produziram-se na arte nacional, como o Cinema Novo, a Bossa Nova e o Movimento Tropicalista. Artistas criadores, como Nélson Pereira dos Santos e Gláuber Rocha, Tom Jobim e João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre tantos outros nomes admiráveis, ajudaram a quebrar barreiras entre a cultura popular e a erudita, ao mesmo tempo em que projetavam uma imagem mais viva e contrastante do Brasil para o mundo. Era a brasilidade tomando novos contornos e expandindo- se em genuínas possibilidades nutridas pela geleia geral. Com o advento da ditadura militar e o ato institucional número 5, a orientação artística na busca da brasilidade teve de amargar a concorrência bruta de uma censura que se esmerava em reduzir o sentimento nacionalista em termos de um ufanismo reacionário com fórmulas tacanhas do tipo “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
A partir da retomada democrática, nos anos 80, e com o atual contexto de um mundo globalizado, o processo de reconhecimento de nossa própria identidade passou a trilhar novos rumos, renovando-se qualitativamente ao abarcar a visão dos mais diferentes grupos sociais na construção de uma representação dinâmica daquilo que somos como povo. Não há outro modo de projetarmos com clareza o futuro que desejamos a não ser revelando honestamente a nós mesmos
toda a nossa brasilidade.
* Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.