POR – REDAÇÃO NEO MONDO
O Greenpeace realizou uma “tomografia” no Sistema Cantareira, o maior sistema de abastecimento de água do País, e descobriu que, apesar da recuperação dos reservatórios em função das chuvas, ele continua vulnerável em sua função de fornecer água limpa.
A ONG utilizou imagens de satélite para avaliar para além do nível d’água. No estudo, foi observado o uso e a cobertura do solo, que vai muito além do entorno do reservatório – compreende mais de 288 mil hectares e 12 municípios.
O que esse exame revelou foi uma enorme “pressão alta” no sistema: 70% de toda a paisagem já foi alterada pelas atividades humanas, sobretudo pastagens e plantios de eucalipto. Da vegetação natural restam apenas 15%. Das APPs, as Áreas de Proteção Permanente, que ficam nas margens de rios e topos de morros e não podem ser desmatadas, pois têm o dever de proteger os cursos d’água, 74% já estão ocupadas por atividades econômicas.
Como as células de defesa de um organismo, as matas ciliares servem de filtro natural para que poluentes e detritos não cheguem aos rios. De acordo com o exame do Greenpeace, para o “paciente” Cantareira, cujo sistema imunológico anda baixo, os riscos imediatos desta pouca proteção são de erosão e assoreamento; eutrofização, causada pela contaminação por fertilizantes e agrotóxicos usados em plantações e pastagens; e poluição por esgoto doméstico. “Outro risco a longo prazo da eliminação da floresta é a redução ou perda da função ecossistêmica de regular o clima e o fluxo hidrogeológico, que pode se refletir em menor ocorrência e aproveitamento das chuvas”, explica o pesquisador Leandro Tavares Azevedo Vieira, doutor em Ecologia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que conduziu o estudo com a pesquisadora Thais Nícia Azevedo Vieira, mestre em Ecologia da Paisagem.
Sem floresta não tem água.
O tratamento para esse tipo de problema é mais que conhecido: recuperar as matas nas APPs já é determinado por lei, mas isso precisa avançar para as pastagens degradadas. E por onde começar? No estudo, os pesquisadores classificaram todo o território em três níveis de prioridade de recuperação: média, alta e muito alta. Foi levado em conta quatro fatores relacionados ao maior aproveitamento hídrico em cada área:
- Proteção dos recursos hídricos, a partir das áreas de proteção permanente. Em todo o Sistema Cantareira, 73% das APPs estão sendo ocupadas;
- Recarga hídrica, pela capacidade de infiltração da água na rocha por meio de análise do tipo de aquífero da região e da composição e profundidade dos solos;
- Relevo do terreno – os mais declivosos tendem a absorver menos água superficial da chuva;
- Ocorrência de chuvas, que está diretamente ligada à quantidade de água que entra no Sistema.
Segundo esses critérios, o que se pode observar é que as áreas mais prioritárias (31% de todo o sistema) se concentram na região norte do Cantareira, onde há mais chuvas, maior recarga nos aquíferos e maior densidade de APPs. Outro ponto a ser observado é que a maioria das áreas destinadas à recuperação pelo programa Nascentes, do Governo do Estado de São Paulo, estão localizadas, em sua maioria, nas áreas de média prioridade.
“O Sistema Cantareira continua vulnerável e não são canos e dutos de interligação que evitarão uma nova falta d’água no futuro. O governo do estado de São Paulo precisa cadastrar adequadamente as propriedades rurais e incentivar a recuperação florestal nas áreas essenciais de proteção. Sem floresta não tem água”, diz Fabiana Alves, da Campanha de Água do Greenpeace.
O estudo está disponível na íntegra pelo link: http://www.greenpeace.org.br/hubfs/Campanhas/Agua_Para_Quem/documentos/2017-greenpeace_%20relatorio_sistema_cantareira.pdf