JOVEM NEGRA TEM 2 VEZES MAIS CHANCE DE SER ASSASSINADA NO BRASIL
POR – REDAÇÃO NEO MONDO COM INFORMAÇÕES DA UNESCO
Dado foi revelado pela UNESCO e pela Secretaria Nacional de Juventude. assassinatos são a maior causa de morte entre brasileiros e brasileiras de 15 a 29 anos. ONU Brasil lançou a campanha #VidasNegras para conscientizar sobre o tema
No Brasil, uma mulher jovem e negra tem mais que o dobro de chance de ser vítima de homicídio quando comparada a uma jovem branca. É o que revela o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) 2017, divulgado pela UNESCO e pela Secretaria Nacional de Juventude. Levantamento aponta que assassinatos são a maior causa de morte entre brasileiros e brasileiras de 15 a 29 anos.
Em todos os estados do país e no Distrito Federal, a mulher negra nessa faixa etária está mais vulnerável a esse tipo de crime do que a população branca do sexo feminino. A exceção à regra é o Paraná, onde a taxa de homicídios entre jovens mulheres afrodescendentes é menor do que a verificada entre as brancas. A comparação baseada em gênero é inédita na história do IVJ.
Por isso, reafirmando o compromisso de implementação da Década Internacional de Afrodescendentes, o Sistema ONU Brasil lançou a campanha nacional “Vidas Negras”. A iniciativa busca ampliar, junto à sociedade, gestores públicos, sistema de Justiça, setor privado e movimentos sociais, a visibilidade do problema da violência contra a juventude negra no país. O objetivo é chamar atenção e sensibilizar para os impactos do racismo na restrição da cidadania de pessoas
negras, influenciando atores estratégicos na produção e apoio de ações de enfrentamento da discriminação e violência.
A escritora Conceição Evaristo está com a ONU na campanha #VidasNegras! Segundo ela, a violência contra a juventude negra também é efeito das vistas grossas sobre o racismo. “É preciso dar um basta na discriminação”, diz.
Números alarmantes
De acordo com o relatório, jovens negras têm, na média nacional, 2,19 vezes mais probabilidade de serem assassinadas do que as jovens brancas. No topo da desigualdade racial e de gênero entre as taxas de homicídio, está o estado do Rio Grande do Norte, onde as jovens negras têm 8,11 vezes mais chances de serem mortas em relação às jovens brancas, seguido do Amazonas (6,97) e da Paraíba (5,65). No Maranhão (1,1) e em Tocantins (1,15), as variações do risco de uma jovem negra e de uma branca sofrer homicídio são as menores registradas no estudo.
Quando a informação sobre o sexo da vítima é subtraída da análise, 24 unidades federativas registram índices de homicídio maiores para a juventude negra — que tem 2,7 vezes mais chances de ser morta dessa forma do que os jovens brancos. No Paraná, há a mesma inversão identificada anteriormente — brancos estão em situação mais vulnerável. Em Tocantins, os riscos vividos por brancos e negros são bastante próximos. Em Roraima, não foi possível realizar o cálculo, pois o estado não registrou morte de nenhum jovem branco no período avaliado.
Os dados de homicídios foram obtidos no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, tendo 2015 por ano-base. As estatísticas mostram que estados das regiões Norte e Nordeste apresentam taxas de vitimização bastante superiores à média nacional, com a desigualdade entre jovens negros e brancos se acentuando nessas porções do território brasileiro.
A maior discrepância no índice de mortalidade por homicídio foi verificada no Nordeste: enquanto a taxa de jovens brancos vítimas de homicídio foi de 27,1 por 100 mil, a de jovens negros foi de 115,7 por 100 mil, ou seja, quatro vezes superior.
Para o cálculo de todos os valores estaduais e regionais, foram utilizadas estatísticas de 304 municípios com mais de 100 mil habitantes.
“Jovens representam 27% da população brasileira. Jamais tivemos e jamais teremos tantos jovens no país. Esses dados mostram uma clara desigualdade na forma com que a violência atinge a juventude negra. Esta mesma violência cresceu e parecia contraditório estar com o principal plano de redução de homicídios, o Juventude Viva, desativado”, afirmou o secretário nacional de Juventude, Francisco de Assis Costa Filho.
Para a representante interina da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, “a violência no Brasil, apesar de nossos esforços, não tem cedido”. “Essa violência tem raça, escolaridade, indicadores socioeconômicos, indicadores de territorialidade e tem gênero, como conseguimos mostrar pela primeira vez. Não é possível que continuemos a assistir a essas mortes de forma impassível sem que focalizemos ações”, cobrou.
A dirigente acrescentou que o problema diz respeito a todos os níveis de governo. Para solucioná-lo, será necessário o engajamento de diferentes setores, com políticas de educação, saúde, empregabilidade e estímulo ao empreendedorismo para os jovens. “A nossa juventude não é o futuro e sim, o presente. Ela exige ações agora”, completou.