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ARTIGO
POR – JULIA FONTELES*, ESPECIAL PARA NEO MONDO
No começo deste ano, Elon Musk ultrapassou Jeff Bezos e é considerado o homem mais rico do mundo. O empreendedor sul africano acertou em cheio na sua aposta em carros elétricos em 2003, ano em que fundou a Tesla. Hoje, é uma das empresas mais bem avaliadas do mercado financeiro. Pouco tempo depois e ao reconhecer o potencial da diversificação de veículos a combustão, empresas automobilísticas tradicionais começaram a investir e a lançar modelos de carros híbridos e elétricos. Em 2019, a frota elétrica bateu o recorde de vendas, com 2,1 milhões de carros vendidos, equivalente a 2,6% da venda total.
Para entender como o mercado automobilístico está mudando rapidamente, é importante avaliar a conjuntura dos fatores políticos e econômicos que se desencadearam ao longo dos anos. Desde o começo do século 21, a União Europeia tem aprovado uma legislação que limita a emissão de gases poluidores de veículos de pequeno porte, aumentando sua eficiência e elevando os impostos sobre gasolina e diesel. Com a agenda climática dominando a diplomacia mundial, países ao redor do mundo se sentem pressionados a aderir a uma economia mais limpa. A Noruega foi o primeiro país a anunciar o fim da venda de carros a combustão, seguido pelo Reino Unido, o estado da Califórnia e a província do Quebec no Canadá.
Além da pressão política para aumentar a frota elétrica, a queda do custo da bateria de lítio também é um fator importante para a viabilidade da transição elétrica. Considerado o componente mais caro do carro, o custo de produção das baterias caiu 89% em 10 anos. O investimento em baterias foi acompanhado por tecnologias que permitem maior autonomia para os carros, solucionando outra ressalva importante.
Em relatório divulgado no final de 2020, a consultoria de energia Bloomberg NEF estima que os preços de carros elétricos e a combustão vão se igualar em apenas dois anos. A consultoria prevê que, embora o uso de hidrogênio como armazenamento em veículos ainda esteja em desenvolvimento, à medida que a transição se aprimore, carros elétricos vão se tornar mais autônomos e atraentes para consumidores, e por tabela, para as montadoras.
Líder em maior circulação de carros elétricos, a China foi o país que mais incentivou a compra dos novos veículos para diminuir o nível de poluição das cidades. Utilizando subsídios e incentivos fiscais, a potência asiática contribuiu para a queda do preço dos veículos de pequeno porte e agora investe na comercialização de transporte públicos e outros veículos de carga. Cidades como Kolkata, na Índia, e a capital chilena Santiago são reconhecidas por oferecer rotas de transportes públicos elétricos e servem de modelo para o mundo.
Segundo o relatório da Agência Internacional de Energia, 2019 também marcou o ano que mais se investiu em infraestrutura de recarga elétrica. Embora a maioria da recarga dos carros ainda seja feita nas residências, o número de estações espalhadas pelas cidades aumentou para 7,3 milhões de estações ao redor do mundo.
Ainda não se sabe ao certo o impacto da covid-19 na rotina dos transportes e, consequentemente, na venda de veículos elétricos para os próximos anos. Devido a alta transmissão do vírus, defensores do clima temem que aumente a preferência por veículos particulares e ocorra uma redução na utilização de transportes públicos, que têm níveis menores de poluição per capita. Outros acreditam que com a agenda climática e incentivos fiscais para recuperação econômica dos governos, o investimento em novas tecnologias vai aprimorar ainda mais carros elétricos e popularizar o produto. Com a distribuição da vacina e a queda do custo das baterias, porém, o impulso para completar a transição já foi dado e a expectativa de resultados positivos é bastante otimista.