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POR – ROSENILDO FERREIRA, PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO e NEO MONDO)
Aposta no engajamento dos consumidores em práticas sustentáveis, implantação de iniciativas de gestão de resíduos (logística reversa) e recuperação de áreas degradadas ou manutenção de áreas protegidas. Esta é a síntese das ações de impacto ambiental adotadas por algumas das maiores empresas brasileiras, de acordo com estudo realizado pelo CDP e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O trabalho teve como base a atuação de 28 empresas associadas ao CEBDS.
Apesar do número relativamente pequeno, pode-se dizer que se trata de um grupo representativo. Afinal, na lista constam líderes setoriais e grupos empresariais cujo montante investido é capaz de causar impactos em larga escala. É o caso de Ambev, Cemig, Grupo Boticário, Suzano e Votorantim Cimentos, apenas para citar algumas das integrantes da pesquisa.
O engajamento do setor privado na luta pelas questões climáticas começou a ganhar corpo durante a Conferência Rio-92, também conhecida como a Conferência da Ecologia. Mais recentemente, outros incentivos vêm acelerando a atuação do segundo setor. Um deles é a mudança de postura de investidores globais, que têm atribuído mais peso às companhias que possuem ações consistentes nos segmentos de meio ambiente, responsabilidade social e na governança corporativa. Esse “trio” foi resumido no acrônimo ESG (da denominação no idioma inglês).
Devido a sua importância estratégica na regulação do clima do planeta e o potencial de sua biodiversidade, o Brasil se tornou um ator importante neste debate. Contudo, tão importante quanto preservar a Amazônia e os demais biomas (Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal), os investidores e os parceiros comerciais intensificaram as cobranças em relação aos indicadores socioeconômicos.
Foi com base neste olhar que o estudo CDP/CEBDS foi elaborado. A seguir, alguns dados que serão apresentados no estudo que será divulgado na terça-feira (16/3):
– 93% das empresas respondentes implementaram processos ou ações de recuperação de áreas degradadas
– Nos últimos cinco anos, essas ações resultaram em mais de 300 mil hectares de áreas em processo de recuperação
– Ainda, 93% das respondentes reportaram a manutenção de Áreas Protegidas (RPPN, APP, RL etc.)
– Somando mais de 15 milhões de hectares, a maioria das empresas possui áreas protegidas no Cerrado (85%) e na Mata Atlântica (85%)
– Entre as empresas respondentes, 80% adotam ações junto à cadeia de suprimentos para melhorar o desempenho ambiental
– A exigência de conformidade legal é a prática mais incidente entre as empresas, adotada por 83% das respondentes
– 67% das empresas desenvolvem ações voltadas ao consumidor visando o consumo ou uso sustentável de seus produtos ou serviços
– 90% dessas ações estão relacionadas as alternativas pós-consumo, como as políticas de logística reversa
De acordo com o assessor técnico do CEBDS, Henrique Luz, apesar de os números do estudo mostrarem um grande comprometimento das empresas, o setor privado ainda tem muito o que contribuir na agenda socioambiental. Confira na entrevista concedida a 1 Papo Reto.
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Faz cerca de 20 anos que o setor privado intensificou suas ações no campo socioambiental. Mesmo assim, ainda existe uma grande dificuldade em medir e precificação os impactos. O que este estudo traz de novidade a este respeito?
O estudo tenta mostrar, de maneira agregada, o que as empresas têm feito para conservar a biodiversidade e promover o seu uso sustentável, com atenção para o envolvimento das comunidades. Devido à complexidade dessas ações, a mensuração ainda depende de diversos indicadores que tratam, por exemplo, de aspectos relacionados ao quantitativo de áreas protegidas e recuperadas pelas empresas, ao número de espécies afetadas ou preservadas, ou ainda ao percentual de fornecedores que são avaliados quanto aos requisitos legais. Apresentamos os números públicos que já existem, e a soma dessas ações chegam a valores significativos. São mais de 15 milhões de hectares protegidos e 300 mil hectares recuperados. O estudo aponta que a padronização de métricas para algumas mensurações e, especialmente, precificação, permitirá que as empresas passem a divulgar de forma mais estruturada seus resultados. Participar desse esforço global será uma das prioridades do grupo.
O CEBDS está na linha de frente da mobilização do setor privado junto ao debate sobre mudanças climáticas e aquecimento global. Contudo, sabemos que as empresas privadas podem muito, mas não podem tudo. As empresas já chegaram ao limite na sua contribuição nesta causa?
Definitivamente, não. O que prevemos é que novos direcionamentos e regulamentações (como a lei de pagamento por serviços ambientais, sem alguns dos vetos, ou uma futura precificação de carbono) irão permitir que essas ações relacionadas a mudanças climáticas e conservação de biodiversidade, que muitas vezes andam juntas (especialmente no Brasil), não só se intensifiquem mas que também possam encontrar soluções sinérgicas a de outros atores no território, situação bastante comum no que se chama de Soluções Baseadas na Natureza. Ainda, o nosso maior potencial está relacionado à transformação sistêmica para uma nova economia. Regenerativa, inclusiva e resiliente. É um futuro possível, mas essa transição deve ser acelerada.
Quais seriam os pontos nos quais o setor produtivo brasileiro pode ser considerado um exemplo em nível global, na área socioambiental, levando-se em conta o estudo?
Os números relacionados às ações de conservação e de regeneração da biodiversidade, apresentados no estudo são impressionantes e podem servir de referência global. Contudo, talvez o maior exemplo que damos é o envolvimento com as comunidades locais neste processo, presente em 71% dessas ações. A participação e compartilhamento de benefícios com essas comunidades, tornam as ações voltadas à conservação mais duradouras e indutoras de desenvolvimento.
A partir de 1998, o Mercado de Carbono ganhou relevância. Contudo, houve uma grande baixa. Qual seria o impacto da precificação do carbono, no Brasil, para dinamizar as ações de preservação da biodiversidade?
As duas agendas estão completamente interconectadas. Considerando que a maior parte das nossas emissões estão relacionadas ao uso da terra, colocar o valor do carbono na conta do processo de tomada de decisão irá valorizar a “floresta em pé” e permitir novas oportunidades para ações de conservação da biodiversidade. Se comprometermos as nossas metas relacionadas ao desmatamento, o custo da indústria para reduzir as emissões de GEE, onde esperamos que a precificação comece a entrar em vigor, será muito maior.
Sabemos que além das empresas, os consumidores também têm sua parcela nesta luta. Quais os destaques da pesquisa em relação às ações empresariais visando ao engajamento da população?
O que vemos no estudo é que as ações das empresas ainda são primordialmente relacionadas ao pós consumo (por exemplo, logística reversa), mas a tendência é a intensificação de ações relacionadas ao uso sustentável e seguro dos produtos, especialmente para a cadeia de alimentos.