Foto – Divulgação
POR – OBSERVATÓRIO DO CLIMA / NEO MONDO
Os alertas de desmatamento em maio na Amazônia bateram mais um recorde, a crise hídrica provavelmente agravada pelo aquecimento global ameaça nos deixar sem luz (apesar de os cientistas avisarem há 15 anos que isso aconteceria) e uma temporada de fogo que pode ser grave está chegando. Tudo isso em meio à suspensão da cúpula do Ibama por suspeita de favorecer madeireiros e – cereja do bolo – a uma crise entre as Forças Armadas e a democracia que traz um péssimo presságio para 2022. A boa notícia é que Ricardo Salles não deve aprontar nenhuma boiada por esses dias: está ocupado demais com dois inquéritos contra ele no STF.
A floresta amazônica já viu de tudo nos últimos 30 anos, mas uma coisa ela ainda não viu: em nenhum momento desde o início das medições sistemáticas de desmatamento pelo Inpe a devastação cresceu por mais de três anos consecutivos. Em 2021, essa possibilidade já não pode mais ser descartada.
O Inpe divulgou na última sexta-feira os dados de alertas de desmatamento do sistema Deter, que capta a devastação em tempo real. Foi um massacre: 1.180 km2 destruídos no mês, 41% a mais do que no já trágico maio de 2020 e recorde da série iniciada em 2016. No acumulado de agosto a maio, são 6.514 km2 no ano passado contra 6.022 km2 neste ano. A diferença nos índices dos dois anos, que era de 20% em janeiro e foi comemorada pelo general Hamilton Mourão e divulgada em comunicados das embaixadas brasileiras mundo afora como resultado de ação governo, hoje é 8%. E está caindo.
A permanecer a tendência nos próximos dois meses, que são críticos, a taxa de desmatamento oficial, dada pelo sistema Prodes, do Inpe, pode ter um inédito quarto aumento em relação aos 10.851km2 confirmados para 2020. Nem no tempo de baixo controle dos governos Collor a FHC o desmate subiu por mais de três anos consecutivos.
Mais do que qualquer coisa, os dados refletem o sucesso de um projeto: o regime de Jair Bolsonaro desmonta há dois anos e meio regulações ambientais, anulou a fiscalização do Ibama e os planos de combate ao desmatamento. O Exército está fora. E o ministro do Meio Ambiente está ocupado correndo da polícia.
“O desmatamento neste ano será o que os madeireiros ilegais, garimpeiros criminosos e grileiros quiserem que seja. E, neste momento, eles não têm nenhum motivo para se controlar”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do OC, em nota.
E o fogo vem aí. Após quatro meses com focos abaixo da média e muita chuva na Amazônia, em maio o Inpe registrou 1.166 pontos de queimada na região, o maior número desde 2007. Os climatologistas preveem uma seca forte em 2021, que já assola o Centro-Sul do país e ameaça deixar os brasileiros sem luz. Na parte sul da Amazônia o risco de fogo já é crítico, segundo o Inpe.