Capa do livro “A ossada de um moleque” – Imagem: Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Segundo livro do autor traz contos que movimentam temáticas por muito tempo submersas na produção literária brasileira refletindo tensionamentos experimentados por muitos, como a resistência do corpo jovem negro periférico LGBTQIA+
“A ossada de um moleque” tem a energia da juventude, a sabedoria da ancestralidade e a força da memória. Ficcionalizando lembranças, reconstruindo histórias, invocando ora a espiritualidade e seus ancestrais, ora o cotidiano e suas realidades, Gabriel Sanpêra prova, em seu segundo livro, que não está no mundo a passeio, e que tem uma missão e um sério compromisso com sua escrita. Dessa vez, sua obra ganha forma pela Oríkì Editora, uma editora independente que tem foco em publicações e visibilidade da produção literária preta, favelada e demais identidades preteridas do mercado editorial.
“Começamos a nutrir uma vontade de trabalhar com Gabriel desde que conhecemos o seu primeiro livro e passamos a acompanhá-lo pelas redes sociais. O abordamos para que publicasse conosco e quando nos enviou o projeto deste livro, tivemos a certeza que seria mais um sucesso desse jovem autor que foi uma grande revelação no mercado literário com seu livro de estreia”, destaca Daniel Brazil da Okírì Editora.
Na experimentação das formas e formatos, poeticamente proseando com o leitor, Sanpêra brinca de escrever muito a sério sua mensagem.
“Meu processo de criação envolveu um resgate de memórias e fotos antigas de minha avó que tinha como tradição fazer anotações atrás dos retratos. Meus contos nascem dessa inspiração nessas imagens e textos breves, no entanto, carregados de significados e representações de uma cultura”, conta Sanpêra.
O título, escolhido não ao acaso, direciona o olhar a dois dos contos mais representativos da obra e revela, sutilmente, do que o livro trata: a estrutura desse moleque, menino, moço.
A estrutura ancestral, emocional, o racismo estrutural que o atravessa, a estrutura física que impacta caminhos, escolhas, imposições. Há uma tênue linha, invisível, que transpassa os textos fazendo uma conexão única, às vezes quase imperceptível, entre eles. A ossada é elemento literal e simbólico, real e metafórico, dando consistência orgânica ao conjunto de memórias, sonhos, dores, amores, vivências diversas e intensas de um corpo que afirma seu valor e sua existência a cada conto, a cada linha.
“A ossada de um moleque é sobre o ato estético-político de tomar posse da adversidade e, a partir dela, criar. É expressão de saberes que reatam o elo ancestral com a linha vibrante da vida”, explica Simone Ricco, Mestra em Letras/Literaturas Africanas, Educadora Antirracista, Articuladora Cultural, Escritora e quem assina o texto de apresentação do livro.
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