Monitorado desde setembro, quando recebeu um colar de telemetria, a onça Sandro apareceu morto em uma fazendo em Corumbá, no Mato Grosso do Sul – Foto: Gustavo Fonseca/Reprocon
POR – MILENA GIACOMINI, ((O))ECO / NEO MONDO
Polícia suspeita de envenenamento. Animais foram encontrados porque uma das onças estava sendo monitorada com colar transmissor de sinal GPS
A Polícia Federal e o Ibama estão investigando a morte incomum de duas onças-pintadas e outros 17 animais – entre eles, urubus, um gavião carcará, um cachorro do mato, uma vaca, além de várias moscas, que não entraram na conta – no município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Os animais foram encontrados pelo Instituto Reprocon (Reprodução Para Conservação), que monitora e estuda o comportamento e a reprodução da onça-pintada (Panthera onca) em área livre através de colares de radiotelemetria e GPS.
Conforme informações apuradas pelo ((o))eco, os pesquisadores do Reprocon receberam no dia 10 de maio um sinal de mortalidade emitido pelo colar de monitoramento de uma onça macho – carinhosamente apelidada de Sandro –, que vinha sendo acompanhada desde setembro do ano passado. Sinal de mortalidade é quando o GPS para no mesmo ponto por muitas e muitas horas, como se o animal estivesse simplesmente parado, sem conseguir se mover. Ao receber aquele alerta, os pesquisadores cogitaram duas hipóteses: a onça poderia estar bem e ter perdido a coleira e por isso o alerta de mortalidade ou, na pior das possibilidades, o animal poderia estar morto e não teria muito o que ser feito. Pela falta de recursos, contudo, a equipe só conseguiu se deslocar ao local para averiguar a real situação no último fim de semana. “O projeto é formado por pesquisadores e não temos patrocínio de empresas e pessoas, então, nós mesmos custeamos as ações, então não temos uma resposta tão rápida”, justifica Pedro Nacib Jorge Neto, veterinário do Instituto Reprocon.
Sandro, a onça-pintada estava sendo monitorada. Paralisação do sinal deu o alerta de que algo poderia ter ocorrido – Foto: Pedro Nacib Jorge Neto/Instituto Reprocon
Na saída de campo, os pesquisadores adentraram na área da mata e encontraram uma onça morta no meio da rota. “No caminho para chegar até o animal, nós sentimos um odor forte e encontramos um macho de aproximadamente 140 quilos, que inicialmente, como a carcaça já estava iniciando a decomposição e nós não tínhamos as fotos para identificar se era o animal do colar, nós acreditamos que poderia ser o Sandro”, explica Pedro.
Os pesquisadores tiraram fotos e fizeram o registro do local que o animal fora encontrado, atividade de praxe da equipe. Seguindo em direção ao colar, os pesquisadores se surpreenderam quando encontraram outra onça. Dessa vez, com a coleira – era Sandro. O animal estava morto a 600 metros do rio. “Nós vimos que eram duas onças, nós resgatamos o colar e voltamos. Ao chegar, nós alertamos os órgãos ambientais porque na maioria das vezes as mortes ocorrem de forma natural, mas eles que precisam avaliar isso e ver se precisa ser investigado ou não”, esclarece o veterinário.
Mais mortes, mesma provável causa
Como na ocasião os pesquisadores encontraram duas onças mortas muito próximas uma da outra e numa mesma região, a Polícia Federal solicitou que a equipe a acompanhasse até o local juntamente com dois peritos e dois fiscais do Ibama. Com a equipe da perícia formada, os pesquisadores da Reprocon seguiram o rastro deixado por Sandro antes de morrer.
Os fiscais pediram para a equipe apontar o último lugar onde o animal teria se alimentado e identificaram que esse local era bem próximo onde fora encontrada a primeira onça, ao lado (Carcará, outra vítima do suposto envenenamento. Foto: Pedro Nacib Jorge Neto/Instituto Reprocon). “Na hora que chegamos na área de alimentação nós começamos a encontrar outros animais mortos, vários urubus, um gavião carcará e a carcaça de uma vaca. Quando os peritos chegaram para avaliar a carcaça da vaca, viram uma quantidade absurda de insetos mortos sob a carcaça. Só que esses insetos decompõem a carcaça e não deveriam estar mortos”, explica Pedro. “Isso deixou claro, até pela velocidade da morte – tinha, por exemplo, um urubu morto ao lado da vaca. A gente sabe que existe um agrotóxico de lavoura, que foi proibido no Brasil há alguns anos mas ainda é encontrado em outros países e trazido ilegalmente da Bolívia e do Paraguai”, alerta o veterinário. “É uma morte muito rápida, mas é claro que depende do tamanho do animal, então o urubu e o carcará são animais leves e com metabolismo rápido, então a morte ocorreu de forma rápida”, explica.
O Ibama autuou o proprietário da fazenda arrendada onde ocorreram os envenenamentos. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar as mortes.