O Brasil se rende aos esportes de natureza, que conquistam cada vez mais adeptos.
Às 5h da manhã, o sol nem surgiu ainda e Felipe Neumann, instrutor de Canoa Havaiana, em Santos, litoral paulista, prepara sua canoa e entra no mar. A prática esportiva é o que o leva a esse ritual diário, que só termina à noite, seja para treinar ou para orientar os alunos da escolinha que mantém no Clube Saldanha da Gama, na Ponta da Praia.
Seu local de trabalho é o mar da Baixada Santista, mas não há rotina nesse cenário, que segundo ele, é sempre diferente. “Não há um nascer ou pôr do sol igual ao outro. Cada dia um céu e mar diferentes, um espetáculo único” – disse.
Durante a noite, a natureza também reserva momentos especiais, como o encontro com as Ardentias, uma espécie de plâncton fosforescente, que torna a água brilhante e iluminada. “Da ponta da embarcação parece sair uma luz azulada” – conta Neumann, que já cruzou com essas colônias por quatro vezes.
Cada vez mais, o homem contemporâneo sente-se atraído por esportes que permitam um contato mais próximo com a natureza. Neumann explica que muitos alunos chegam à atividade com o objetivo de minimizar o estresse diário e também pela possibilidade de praticar uma atividade física em ambiente aberto, com mais liberdade. As aulas acabam revelando aos alunos, normalmente moradores da cidade, recantos desconhecidos, praias e enseadas, faróis e encostas de difícil acesso. “Eles ficam surpresos com as belezas que descobrem na própria cidade. É realmente um privilégio poder visitar esses locais” – disse o instrutor.
As canoas havaianas podem ser vistas diariamente, em Santos, e já despertaram a curiosidades de diversas pessoas, pela sua bela estética, benefícios físicos, sensação de liberdade e contato com a natureza. Para praticar o esporte, que já conta com um calendário anual de competições no Brasil e exterior, basta ter afinidade com a água. Os alunos utilizam coletes salva-vidas e remos. Como vestimenta, uma roupa confortável, que possa molhar. Existem canoas de vários tamanhos, que acomodam de uma a seis pessoas. Nesse caso, tem 14 metros de comprimento, 50 cm de largura e pesa 180 quilos com o estabilizador lateral. Ao contrário das primeiras embarcações, as atuais são feitas de fibra de vidro e continuam a ser muito seguras e confortáveis, sobretudo, pela facilidade de entrar e sair.
Sua utilização como esporte, lazer e até turismo, garante um bom condicionamento físico, aprimora a concentração, desenvolve o espírito de equipe, necessário na integração nas remadas e ainda afere uma boa calibragem na sintonia com o meio ambiente (rio ou mar aberto). E o melhor, as conseqüências ficam evidentes na harmonia que se obtém consigo mesmo.
Há três mil anos
Apesar de ser considerado uma nova modalidade esportiva, as Canoas Havaianas trazem uma bagagem de três mil anos de história. Elas foram projetadas pelos polinésios como forma de transporte para o mar aberto. Graças a elas, conquistaram diversas ilhas do Pacífico, como Bora Bora, Taiti e Ilha de Páscoa. Possuíam um aspecto quase sagrado e as partidas eram precedidas de um ritual religioso, para a bênção das embarcações e proteção aos canoístas que enfrentariam as gigantescas ondas dos mares do Sul. Ainda hoje, em algumas competições, os polinésios fazem uma demonstração desse ritual antes das provas. Conforme contou Neumann, esse caráter cultural e de grande beleza estética, contagia os participantes, que acabam arriscando alguns passos.
No mundo
As canoas havaianas já conquistaram esportistas do Brasil, Canadá, Nova Zelândia, Itália, Austrália, Costa Rica, Indonésia, China, Inglaterra, Japão e Havaí. São eles os principais divulgadores da modalidade que pretendem tornar um esporte olímpico.