POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Num mundo do futuro é possível imaginar novos materiais, que se reconstituem automaticamente ao serem rasgados, remédios e exames médicos mais eficientes e menos agressivos, regeneração celular de órgãos e sistemas humanos, toda gama de equipamentos mais compactos, leves e de alta performance e interatividade….Porém, esse futuro não é tão distante como imaginamos. Esses avanços, que já estão a caminho, passam necessariamente por uma ciência, denominada nanotecnologia ou nanociência, que apesar de estar muito concentrada ainda nas pesquisas e no mundo empírico – baseado na possibilidade com base em estudos – , promete uma revolução através da manipulação de átomos e moléculas.
Um dos integrantes desse mundo fascinante da pesquisa científica, o professor do Instituto de Física de São Carlos (USP), Luiz Nunes de Oliveira, especialista em nanoestrutura, explicou que o desenvolvimento científico está se tornando cada vez mais veloz e que num período de vinte a trinta anos, estaremos num estágio evolutivo muito diferente do que entendemos hoje como ciência moderna. Exagero? Talvez nem tanto, basta fazer um retrospecto para perceber como funcionam essas mudanças. Nos idos de 1870, quando a visão do mundo ainda era macroscópica, decobriu-se os micróbios. A surpresa científica, de que um ser praticamente invisível poderia causar tantos danos, abalou o mundo. Com a descoberta do átomo, e a possibilidade de trabalhar atomicamente, novos avanços foram obtidos, principalmente no século 20, com o domínio das técnicas de manipulação. Ocorre que o átomo é considerado pelos cientistas como uma estrutura rudimentar. Ele é formado por um núcleo positivo, onde reside praticamente toda sua massa, e por elétrons, negativos, que circulam em torno desse núcleo. Nessa estrutura se alojam: a vantagem da simplicidade de sua manipulação e a desvantagem da limitação de recursos.
Foi então que alguns pioneiros mais ousados se perguntaram: e se construíssemos novos materiais, átomo a átomo. Nasceu aí a nanociência, que consiste em construir materiais a uma escala de 1 nanômetro, com grupamento de átomos, o que amplia enormemente as possibilidades científicas. Um nanometro equivale a um milionésimo de milímetro. “Entre o tamanho de um átomo e o de um fio de cabelo, está um universo imenso a ser explorado, o mundo nano” – disse Oliveira.
Atuar na manipulação dessas moléculas traz inúmeras possibilidades para a ciência do futuro, em diversas áreas como a medicina, eletrônica, ciência da computação, física, química, biologia e engenharia dos materiais. Ainda é uma caixa preta, mas segundo Oliveira, em questão de 10 a 15 anos já deve-se ter um controle melhor e mais aplicável dessa tecnologia. Ele cita alguns exemplos de utilização da nanotecnologia, dentre os quais um produto aplicado na fabricação de pará-brisas de veículos que fazem a água escoar sem necessidade de limpador ou ainda uma matéria que pode ser aplicada a tinta para torná-la branca, sem pigmentos. Os países desenvolvidos investem muito dinheiro na nanotecnologia. Mais de dois bilhões de dólares por ano, se somarmos os investimentos dos Estados Unidos, Japão e União Européia. No Brasil, os investimentos ainda estão muito restritos ao governo, através de incentivos à pesquisa e também o setor petroquímico, que realiza projetos e estudos na área. As pesquisas no Brasil estão voltadas aos segmentos de medicamentos, sensores, materiais magnéticos, semi-condutores e computação quântica.
INFINITO DE POSSIBILIDADE
Os benefícios essa ciência pontam para um infinito de possibilidades que englobaria novos materiais, avanços em eletrônica e em biotecnologia, como no caso das células tronco, com grande implicações econômicas, sociais e ambientais. Ganhos na engenharia, com a utilização de produtos mais duráveis, limpos, seguros e inteligentes, tanto para a casa, como para as comunicações, os transportes, a agricultura e a indústria em geral. É possível imaginar dispositivos médicos capazes de trafegar livremente na corrente sanguínea e detectar e reparar células cancerígenas antes de que se alastrem.
PERIGOS E RISCOS
Mas não só vantagens podem advir dessa tecnologia. Como tudo na vida, pode-se ter um uso duplo, ou seja, com aplicações comerciais e também militares, aos quais se enquadrariam armas e aparelhos de vigilância muito mais potentes. A nanotecnologia representa, portanto, incríveis vantagens para a humanidade, mas também riscos, incluindo-se ai a nanopoluição, formada por nanopartículas residuais. Especula-se que, devido ao seu pequeno tamanho, eles poderiam entrar nas células de animais e plantas. Como a maioria destes nanopoluentes não existe na natureza, as células provavelmente não saberiam como lidar com eles, causando danos ainda desconhecidos. O fato é que trata-se de um caminho evolutivo natural e tem sido encarado como a próxima revolução industrial. A US National Science Foundation estima que, dentro de dez anos, todo o setor de semicondutores e a metade do setor farmacêutico dependerão dessa nova ciência e que, até 2015, o mercado global envolvido por ela girará em torno de um trilhão de dólares.