POR – ELENI LOPES DIRETORA DE REDAÇÃO DE NEO MONDO
De acordo com o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C.
Onda de calor? Culpa do aquecimento global. Esfriou demais? Debita na conta do efeito estufa. Tsunamis? Furacões? Seca? El Niño? Aumento do nível dos mares? O responsável é sempre o mesmo.
Para melhor entender este cenário, imagine a Terra como um carro estacionado sob o Sol.
Os raios solares entram pelas janelas do carro; uma parte do calor é absorvida pelos assentos, painel, carpete e tapetes. Quando esses objetos liberam o calor, este não sai pelas janelas por completo. Uma parte é refletida de volta para o interior do carro. O calor irradiado pelos assentos é de um comprimento de onda diferente do da luz do Sol que entrou pelas janelas. Então uma certa quantidade de energia entra e menos quantidade de energia sai. O resultado é um aumento gradual na temperatura interna do carro. No nosso paralelo com a Terra, quando os raios solares chegam à atmosfera e à superfície do planeta, aproximadamente 70% da energia fica no planeta, absorvida pelo solo, pelos oceanos, pelas plantas e outros. Os 30% restantes são refletidos no espaço pelas nuvens e outras superfícies refletivas. Mas, mesmo os 70% que passam, não ficam na Terra para sempre (se isso acontecesse ela se tornaria uma bola de fogo). Parte vai para o espaço e o resto é refletido em gases ao redor da atmosfera, tais como dióxido de carbono, gás metano e vapor de água (conheça mais no box). O calor que não sai pela atmosfera terrestre mantém o planeta mais quente do que o espaço sideral, porque mais energia está entrando pela atmosfera do que saindo. Isso tudo faz parte do chamado efeito estufa. Desta forma, o aquecimento global é uma consequência das alterações climáticas ocorridas no planeta. De acordo com o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer insignificante, mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e afetar profundamente a biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais.
Cenário alarmista?
Em 1997, em busca de alternativas para minimizar o aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de Kyoto. Nele, as nações desenvolvidas se comprometiam a reduzir sua a emissão de gases que provocam o efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Essa meta teria que ser cumprida entre 2008 e 2012. Vinte anos depois da assinatura, uma certeza: muito pouco foi feito. Qual o impacto de promessas não cumpridas, iniciativas que não saíram do papel? Alguns exemplos: – O derretimento das calotas polares é um fenômeno verificado nas últimas décadas e está diretamente relacionado ao aquecimento global. Estudo recente divulgado pela revista Science mostra que o derretimento anual de 4.260 bilhões de toneladas de gelo na Antártida e na Groenlândia, em um período de quase 20 anos, aumentou em 11 milímetros o nível do mar — o equivalente a um quinto do aumento observado no período. – Os efeitos mais devastadores e também os mais difíceis de ser previstos são aqueles na biodiversidade. Muitos ecossistemas são delicados e a mais sutil mudança pode matar várias espécies. E mais: a maioria dos ecossistemas são interconectados então a reação em cadeia dos efeitos é hoje imensurável. – Outras consequências do aquecimento global são a desertificação, alteração do regime das chuvas, intensificação das secas em determinados locais, escassez de água, abundância de chuvas em algumas localidades, tempestades, furacões, inundações, alterações de ecossistemas, redução da biodiversidade, perda de áreas férteis para a agricultura, além da disseminação de doenças como a malária, esquistossomose e febre amarela. – O IPCC estima que o nível do mar tenha subido 17 centímetros durante o século 20. Projeções feitas por cientistas mostram que até 2100 o nível do mar vai subir de 18 a 55 cm.
Impacto no Brasil
O Brasil, por ser um país com dimensões consideradas continentais, acaba, inevitavelmente, ficando mais exposto aos riscos provocados pelo aquecimento global. Além disso, uma considerável parte de seu território encontra-se próxima à Linha do Equador, zona da Terra que recebe os raios solares de forma mais intensa. Além disso, o fato de o território brasileiro apresentar uma extensa faixa litorânea também merece atenção. No Nordeste, o aumento das temperaturas poderá oscilar, nas próximas décadas, entre 2ºC e 4ºC. De acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o principal e mais alarmante efeito possível do aquecimento global no Brasil é a redução da Floresta Amazônica, que poderá perder entre 30% e 50% de seu território durante o século XXI. Um estudo do Banco Mundial, intitulado “Impactos da Mudança Climática na Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e Oportunidades no Nordeste do Brasil”, aponta ainda que a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas no Nordeste continuarão aumentando até 2050, com graves efeitos para a população, caso os governos locais não invistam em infraestrutura e gestão hídrica.
Gases tóxicos
Conheça um pouco mais dos gases que contribuem para o aumento do efeito estufa:
– Dióxido de carbono (CO2): gás incolor, subproduto da combustão de matéria orgânica. A atividade humana bombeia enormes quantidades de CO2 na atmosfera. O aumento de sua concentração é considerado o fator primário no aquecimento global, porque o CO2 absorve radiação infravermelha.
– Óxido Nitroso (N2O): embora as quantidades liberadas pela atividade humana não sejam tão grandes quanto as de CO2, o óxido nitroso absorve muito mais energia do que CO2 (cerca de duzentas e setenta vezes mais). Por esse motivo, os esforços para que sejam reduzidas as emissões de gás estufa têm sido direcionados para o N2O também.
– Metano: principal componente do gás natural, ocorre naturalmente, oriundo da decomposição de material orgânico. Atividades desenvolvidas pelo homem produzem o metano de várias formas, como, por exemplo: • extração do carvão; • a partir de grandes rebanhos de gado (por exemplo, gases digestivos); • decomposição do lixo em aterros.
China, Estados Unidos, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia do Sul são os principais emissores dos gases do efeito estufa.
Urso polar: vítima inocente
Habitante das terras geladas do Ártico, o urso polar sobrevive a uma temperatura que varia de -37°C a -45°C, graças a duas camadas de pele e uma camada de gordura de 11,5 cm de espessura que fazem o isolamento térmico de seu corpo. O animal é encontrado apenas em cinco países: Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e Groenlândia. Carismáticos, são considerados os símbolos do aquecimento global. A espécie está classificada como “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), com oito das dezenove subpopulações em declínio. O principal perigo causado pela mudança climática é a desnutrição e inanição devido à perda do habitat. Os ursos-polares caçam focas nas plataformas de gelo, e a elevação da temperatura pode fazer com que o gelo do mar derreta mais cedo a cada ano, levando os ursos para a costa antes de terem constituído reservas de gordura suficientes para sobreviver ao período de carência alimentar no final do verão e início do outono. A redução da cobertura de gelo também força os ursos a nadarem longas distâncias, o que esgota ainda mais seus estoques de energia e, ocasionalmente, leva ao afogamento. Além de criar estresse nutricional, o aquecimento climático afeta vários outros aspectos da vida do urso polar, como a capacidade das fêmeas grávidas em construir tocas de maternidade adequadas devido às mudanças nas plataformas de gelo. Doenças causadas por bactérias e parasitas também podem se estabelecer mais rapidamente num clima mais quente, afetando a espécie.