Vidas em chamas
De acordo com o INPE, o Brasil ultrapassou no início de setembro o número de cem mil focos de queimadas, o que não acontecia desde 2012. É o maior número em sete anos.
POR – ELENI LOPES, DIRETORA DE REDAÇÃO DE NEO MONDO
O impressionante avanço das queimadas está no centro das atenções no Brasil e exterior. Diariamente, são noticiados focos de incêndio no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do País, dizimando biomas, fauna e floras. Imagens de aterrorizar, com impactos incalculáveis para a biodiversidade brasileira. Mais aterrorizador é o jogo de empurra-empurra, a enxurrada de acusações, enquanto medidas efetivas e preventivas são adiadas, numa trama política nauseante. A política ambiental do governo Bolsonaro segue em xeque.
De acordo com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Brasil ultrapassou no início de setembro o número de cem mil focos de queimadas, o que não acontecia desde 2012. É o maior número em sete anos.
Diante de uma cobertura intensa sobre o tema, NEO MONDO traz aqui os mais recentes dados sobre este tema para a análise e conclusão do leitor:
Cerca de um terço das áreas de desmatamento ilegal já identificadas pelo Ministério Público Federal no âmbito do projeto Amazônia Protege foram alvos de queimadas este ano, segundo laudo técnico produzido pelo órgão a pedido da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF.
Fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicaram neste ano 23% menos advertências e multas por crimes contra a flora na Amazônia Legal, segundo levantamento feito pelo portal G1. A queda foi verificada no período entre janeiro e agosto na comparação com o mesmo período de 2018. Nos primeiros oito meses deste ano, queimadas e alertas de desmatamento tiveram altas expressivas.
Em anos de queimadas recorde, como 1995 e 2004, o valor das matérias-primas e especulação fundiária provocada por incerteza na economia tiveram papel relevante para o desmatamento. De acordo com matéria da BBC Brasil, este ano, ao contrário, a alta na ocorrência de queimadas não acompanha mudanças de ciclos econômicos ligados à valorização do preço de matérias-primas, como carne de gado e soja, ou a uma corrida para comprar terras em momentos de incerteza na economia. Do começo do ano para cá, as ações de autuação dos órgãos ambientais não deram mostras de melhora – pelo contrário, mesmo com a alta nas queimadas, o número de multas do Ibama em 2019 caiu a menos de um terço do ano passado.
Especialistas apontam que um importante fator para o aumento nas queimadas está na troca de profissionais em postos importantes dos órgãos ambientais.
Dados do Programa de Queimadas apontam que o Cerrado brasileiro registrou 44% mais focos de incêndios de 1º de janeiro a 10 de setembro do que o observado no mesmo período em 2018.
Diante de tudo isso, o que diz o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles? Bem, em um tuíte publicado em sua conta pessoal, ele atribuiu o recorde de queimadas no país à seca, ao vento e ao calor. No entanto, para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a estiagem deste ano está mais branda do que a de anos anteriores. Para a organização, o desmatamento é um fator preponderante nessa situação.