Ao todo, foram desmatados 13.053 hectares em todo bioma. Acima, área desflorestada na Mata Atlântica em Minas Gerais – Foto: Fabio Origuela de Lira
POR – DANIELE BRAGANÇA*, PARA ((O))ECO / NEO MONDO
Houve aumento de derrubada de floresta em dez dos dezessete estados que compreendem o bioma. Minas Gerais segue sendo o estado que mais derruba Mata Atlântica
Entre 2019 e 2020, o desmatamento na Mata Atlântica aumentou em 10 dos 17 estados que compõem o bioma. Espírito Santo, São Paulo e Mato Grosso do Sul foram os que mais desmataram em relação ao percentual apresentado no último relatório. Os dados são do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, publicados nesta quarta-feira (26) pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O Espírito Santo, que havia desmatado apenas 13 hectares entre 2018 e 2019, desmatou 75 hectares entre 2019 e 2020, um aumento de 462%. Já São Paulo pulou de 43 hectares para 218 hectares desmatados, um aumento de 402% de um período para outro. Mato Grosso do Sul perdeu 851 hectares nos últimos dois anos, contra 375 hectares no período anterior.
Embora o aumento percentual forte seja um sinal de alerta para esses estados, é em Minas Gerais, Bahia e Paraná onde reside o problema do desmatamento na Mata Atlântica. Os três estados são os que mais desmatam o bioma, todos com áreas acima de 2 mil hectares no período. Os três conseguiram ter diminuição no tamanho do desmatamento entre 2019 e 2020, mas em termos de área, que é o que importa, seguem perdendo floresta em um ritmo intolerável para o pouco que restou de Mata Atlântica.
Ao todo, foram desmatados 13.053 hectares em todo bioma, uma diminuição de 9% em relação ao período anterior, 2018-2019, quando foram desmatados 14.502 hectares. Restam menos de 13% do bioma original no país.
“Mesmo que tenhamos uma diminuição de 9% do desmatamento em relação a 2018-2019, ali o aumento havia sido de 30%, então não podemos falar em tendência de queda”, explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. “Além disso, no que se refere à Mata Atlântica, 13 mil hectares é muito, porque se trata de uma área onde qualquer perda impacta imensamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, como regulação do clima e disponibilidade e qualidade da água”, afirma.
A ocupação agrícola é o principal vetor do desmatamento em regiões como Minas, Bahia e Paraná. Em São Paulo e Rio de Janeiro, a dinâmica é diferente, atribuída à expansão imobiliária. “A especulação imobiliária é um dos vetores do desmatamento da Mata Atlântica pela a derrubada de áreas em torno das grandes metrópoles. São vários pequenos desmatamentos relacionados à expansão das cidades”, explica Luís Fernando Guedes Pinto. “Os governos precisam fazer valer a Lei da Mata Atlântica, que não permite a conversão de áreas florestais avançadas, e garantir o desmatamento ilegal zero por meio do combate às derrubadas não autorizadas”, diz.
*Daniele Bragança – É repórter especializada na cobertura de legislação e política ambiental. Formada em jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), desde 2018 é editora do site ((o))eco.
Tabela: Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica